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Parece que, finalmente, a digitalização da saúde vai sair das intenções com a chegada do CPF da saúde. Depois de tantos ensaios, projetos e lançamentos, um novo produto da iniciativa privada apresenta o modelo, no mínimo, mais próximo do desejável. O Fleury, que tem como sua principal atividade os laboratórios de análises clínicas, anunciou no início do mês a criação da “Saúde iD”, definida como um one-stop do setor. Ou seja, uma plataforma digital que concentra produtos e serviços da saúde.

 

A reportagem publicada no Brazil Journal com o CEO do Fleury, Carlos Marinelli, sintetizou assim a abrangência da “Saúde iD” como uma espécie de CPF da saúde: um marketplace de soluções reunindo empresas, operadoras de saúde e pacientes, que nasce com sete milhões de vidas – quatro milhões vindo da SantéCorp, a startup de cuidados de saúde que o Fleury adquiriu. O cliente terá acesso a seu histórico médico, poderá marcar consultas por telemedicina ou presenciais, terá acesso aos resultados de exames diagnósticos e pode ainda gerenciar doenças crônicas. A Saúde iD, ou CPF da saúde, também irá se integrar com farmácias para que o paciente possa receber em casa medicamentos prescritos pelo médico, bem como kits de alimentação saudável, bens de consumo e ofertas para adoção de hábitos saudáveis.

Mas é no último item mencionado na publicação que se encontra o fator mais relevante, e tema deste artigo: “O paciente será o dono de todas as suas informações de saúde, integradas em um único local e não precisará mais contar seu histórico a cada médico que visitar ou exame que realizar”. Eis aí um passo gigante para o aperfeiçoamento da saúde no Brasil. O compartilhamento em tempo real do prontuário do paciente com todos os médicos ou laboratórios devidamente associados ao ambiente virtual do nosso sistema de saúde.

O que é CPF da saúde?

O “CPF da saúde é um instrumento capaz de oferecer vantagens incontáveis, começando pela rapidez do acesso e precisão das informações clínicas de um paciente, que levará à assertividade de procedimentos e prescrições, economia de tempo e a melhores resultados na atenção primária à saúde.

Não podemos omitir as tentativas do governo, em suas diversas esferas, de efetivar a digitalização da saúde. No âmbito federal, há anos, o Ministério da Saúde implantou o Programa de Apoio à Informatização e Qualificação dos Dados da Atenção Primária à Saúde (Informatiza APS). No esteio dessa empreitada, surgiu o Conecte SUS. No entanto, os investimentos muito aquém da amplitude do propósito e, certamente, a burocracia associada à falta de sinergia entre União, Estados e municípios, sabotaram a viabilidade do “CPF da saúde”. Só agora os governos se viram obrigados a retomar seus projetos, voltados para a digitalização da saúde, sob pressão da pandemia. Mesmo assim, processos incipientes. No caso da Prefeitura de São Paulo, foi lançado o e-Saúde SP, em agosto.

Mas, sem fugir do mote da resenha, fica o registro de satisfação pela iniciativa do Fleury que pode incentivar e inspirar outros esforços para que o Brasil tenha também a saúde pública on-line. Agora, sob a guarda da Lei Geral de Proteção de Dados.

O “CPF da saúde” é um benefício para todos. Porém, em um país onde 7 em cada 10 pessoas dependem da saúde pública – leia-se SUS –, a informação célere e segura será capaz de salvar vidas, reduzir custos e dar transparência a um segmento social prioritário. Parabéns, Fleury! E mãos à obra, senhores gestores.

Por Marcelo Santos, Diretor Executivo da Bentec Consultoria.

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